Por Dr. T. Berry Brazelton (pediatra)
e Dr. Joshua D. Sparrow (psiquiatra infantil)
Palmadas
e outras punições físicas interrompem o comportamento indesejado de uma criança
assustando-a ou causando-lhe dor física, enquanto reafirmam o poder da maior
força física de um adulto. Os adultos que receberam punições físicas na
infância quase sempre parecem se lembrar como os pais eram poderosos e como
eles se sentiam assustados. Geralmente também lembram como tinham raiva e como
respeitavam ou admiravam pouco seus pais nessas ocasiões.e Dr. Joshua D. Sparrow (psiquiatra infantil)
Com
muito menos frequência esses adultos se lembram porque apanhavam ou que lição
deviam ter aprendido. Uma mulher crescida, agora mãe, afirma, “Lembro-me
exatamente com o que apanhei e onde, mas não me lembro porquê. Tudo o que
lembro é como me senti embaraçada, como fiquei com raiva de meu pai e como
queria me vingar. Mas não aprendi nada.”
Quando
os pais utilizam a violência para mostrar que são eles que mandam, estão
dizendo para a criança “Sou maior do que você” e “Não respeito você”. Pode-se
esperar que uma criança que é tratada dessa maneira se esquive de seus pais e
se proteja em um casulo de raiva. Ela tende a perder o respeito pelo adulto e
não levará a sério os ensinamentos morais dos pais que a ferem. Essa criança
corre o risco de crescer sem consciência.
Em
outras culturas, uma colher ou raquete de madeira é mantida perto, pronta para
espalmar os traseiros das crianças que se comportam mal. Mesmo quando não são
utilizados também são mencionados, quando necessário, como um lembrete das
consequências a serem evitadas. Muitos pais nunca batem nos filhos. Eles
simplesmente nos lembram do seu poder e intenção de fazê-lo. As crianças que
podem incorporar essa ideia, imaginar como seria e decidir que o mau
comportamento não vale a pena, podem nunca ter que vivenciar essa realidade. Mas
esse método deixa a criança dependente de ameaças físicas para parar e pensar
sobre o seu comportamento.
Os
pais que foram criados com punições corporais tendem a continuar a tradição
pela geração seguinte. Com frequência, eles o fazem a partir de um sentido de
lealdade com seus pais e com a cultura ou por um sentido de dever de executar
essa obrigação ou por falta de alternativas. Uma professora da pré-escola que
conheço ouve os pais dizerem “Meus pais me batiam e não acho que tenha dado tão
errado”. Para eles, ela responde “Você está errado. Você está bem apesar de ter apanhado!” Esses pais
também podem ser incapazes de imaginar como uma criança se sente com a ameaça
de agressão física pairando sobre ela.
No
calor da hora, os pais que querem criar seus filhos de maneira diferente
daquela com que foram criados ainda podem se descobrir recorrendo a reações
familiares e profundamente arraigadas. Mas quando o fazem, tendem a ser
dominados pela culpa. Aqueles que conseguem evitar as punições corporais têm mais
probabilidade de ter sucesso se se preparam com outras respostas simples às
quais podem recorrer quando há um mínimo de tempo para pensar.
Qualquer
família precisará entender suas próprias tradições disciplinares (incluindo as
punições corporais), deseje ela perpetuá-las ou adotar um novo método. Essas
tradições merecem respeito, embora hajam linhas que não deveriam mais ser
cruzadas. Certamente, os danos físicos são inaceitáveis sob quaisquer
circunstâncias. Mas, e sobre a dor física transitória – como as palmadas e os
tabefes? Ou a dor emocional, transitória ou não – como a vergonha, a
humilhação, as críticas destrutivas, ou as comparações negativas com os irmãos,
etc? Se disciplinar é ensinar, e a meta é a autodisciplina, então as respostas
para essas questões são óbvias. Desse ponto de vista essas abordagens parecem,
na melhor das hipóteses, míopes, e na pior, contraproducentes.
Com
muita frequência, os pais batem numa criança quando estão ele mesmos fora de
controle momentaneamente. Claramente, não há nada de positivo nisso a ser
aprendido por parte da criança. Com muito menos frequência, os pais continuam
calmos e de cabeça fria, adotando uma aplicação consistente das punições
corporais.
Quando
os pais adotam punições corporais, também dizem para uma criança: “Você terá
que se comportar porque posso te pegar.” Essa mensagem não prepara uma criança
para o dia em que os pais não estarão lá. No mundo violento da atualidade, não
podemos mais nos permitir ensinar comportamentos violentos aos nossos filhos. Não
podemos mais nos permitir discipliná-los sem lhes dar razões melhores e mais
duradouras para assumirem a responsabilidade por seu comportamento.
(Trecho extraído do livro
“Disciplina: o método Brazelton”, ed. Artmed, p 62.)
O que fazer então sobre nos mudarmos para evitar as palamadas. Não sei o que fazer.
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