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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

E as mães que trabalham? (por Laura Gutman)


            Esta é uma pergunta que me formulam com freqüência homens e mulheres quando falo da fusão emocional e das necessidades básicas das crianças pequenas. Geralmente cremos que a fusão emocional [1], a maternagem, a sintonia profunda entre a mãe e a criança são um privilegio das mulheres que têm a possibilidade econômica de não trabalharem. Afirmamos que estas são teorias para ricos.
            Pois bem, creio absolutamente que não é assim, e o constato diariamente. A maternagem depende fundamentalmente da capacidade de contato emocional que uma mulher esteja em condições de se dedicar ao vínculo com a criança pequena durante as horas em que efetivamente esteja em casa. Se a comunicação, o amparo, a sincronia de tempos e emoções se plasmam com facilidade no relacionamento, essa criança poderá esperar pela mãe durante as suas horas de ausência. Ainda assim, essa mãe conectada deixará seu filho sob os cuidados de alguém que perceba o clima sutil que envolve a díade, e que seja capaz de respeitar o ritmo e a cadência que os envolve.
            Essas horas de encontro preencherão de prazer e de leite as necessidades de ambos; se fundirão nas sensações oníricas e dormirão abraçados sem desperdiçar um instante de intercâmbio e ternura. Essa mãe o presenteará com palavras suaves que lhe expliquem onde está quando se ausenta e o quão feliz fica quando estão juntos. E a criança confirmará a cada dia que a sua mãe retorna cheia de entusiasmo e lhe oferece seu corpo quente para alimentá-lo sem pausa. Uma criança intimamente amparada sabe que sua mãe está sempre próxima dela, que precisa esperar por somente um instante. Que a mãe logo o recompensará.
            O problema não é trabalhar. O único problema para a criança pequena é a distância emocional e o medo que a mãe tem do seu próprio despertar. Todo o mais são desculpas. Às vezes o trabalho é uma excelente desculpa para não termos que afrontar nossos demônios internos, nem ter que nos aproximarmos da nossa realidade exterior. O trabalho não acaba com nossa capacidade de nos fusionarmos com o bebê. Somente nos obriga a sermos mais cuidadosas para obtermos um bom rendimento das horas do dia.
            Quando acreditamos estar enlouquecendo, quando nos apresentam as imagens da união com o cosmos, quando as percepções de afinam a ponto de escutar quase tudo o que se passa no mundo, podemos decidir por nos apegarmos a este lugar tão seguro que é o nosso trabalho. Não há nada de errado que muitas mulheres tomem essa decisão, que, provavelmente, seja a melhor para muitas delas. Mas fica claro que existe outra decisão possível: nos afastarmos do mundo sombrio e nos deleitarmos com a luz. Não é o trabalho que determina nossa capacidade de fusão, mas sim, ao contrário, é a nossa capacidade de fusão que determina como, quando, quanto e onde escolhermos trabalhar.
Traduzido e adaptado por Taicy Ávila, de:
Gutman,L. (2010). Crianza, violencias invisibles y adicciones (Educação dos filhos, violências invisíveis e vícios). Buenos Aires Del Nuevo Extremo Editorial. (pp 42- 43).

Notas:
[1] Para saber mais sobre o conceito de fusão emocional sugerimos a leitura de “A maternidade e o encontro da própria sombra”, também de Laura Gutman, já editado em português. Também sugerimos a leitura das obras de Winnicott, Bowlby e Klein.